Não sei o que é o tempo
Não sei qual a verdadeira medida que ele tem, se tem alguma.
A do relógio sei que é falsa, divide o tempo especialmente, por fora.
A das emoções sei também que é falsa:
divide não o tempo, mas a sensação dele. A dos sonhos é errada; neles roçamos o tempo,
uma vez prolongadamente, outra vez depressa,
E o que vivemos é apressado ou lento
conforme qualquer coisa do decorrer cuja natureza ignoro.
Julgo, às vezes, que tudo é falso,
e que o tempo não é mais que uma moldura
para enquadrar o que lhe é estranho.
Fernando Pessoa
Sem comentários:
Enviar um comentário