… sobre uma coisa… chamei alguém ‘cometa’ há alguns anos atrás… Alguém que nunca percebeu o que queria dizer com esta metáfora… Cometa é lago estranho, vem de longe e em certos momentos e contextos pode ser muito destruidor… algo que obriga o outro mudar de trajetória, que ilumina, que traz novas vidas, desconhecidas e que até podem ser assustadoras as vezes. Foi o que me aconteceu … estava passar por uma fase complicada na minha vida – tinha de repente perdido tudo! Depois duma vida orientada, calma… mesmo que com altos e baixos, mas estava estabilizada, com trabalho, casa e filhos… com outras palavras tinha entrado numa rotina diária, sem grandes sobressaltos – casa, trabalho, casa… supermercado, cozinha e férias quando possível… uma vida ‘normal’ como tantas outras….
Até o dia que fui colocada perante a decisão – divorcio ou… Tudo mudou, desmoronou… Fazer o que? Para onde ir? Como fazer? Enfrentar ou fugir da responsabilidade? Tinha passado anos absorvida pela família, casa e trabalho, sem amigos e ninguém com quem poderia partilhar os pensamentos e a dor que sentia… os poucos que estavam a minha volta não iriam perceber os meus sentimentos, nem a raiva, nem a revolta que sentia, eram da família dele… nem tão pouco os porquês, nem podiam dar conselhos… Senti-me nesta altura sozinha, abandonada e muitas vezes com reações completamente irracionais… Com filhos crescidos, sabendo perfeitamente que não tinha direito algum de sobrecarrega-los com os meus problemas, apostei na fuga… trabalhar fora, trabalhar até não conseguir mais… fazer tudo para não ter tempo, não pensar nos meus problemas… adiar a sua resolução, na esperança que o mar acalmava por si, que as ondas mudavam de direção sem me molhar…
Claro que não… tudo era minha imaginação ou melhor o desespero e o desejo de não enfrentar a realidade. Num momento destes, numa noite de tentar fugir da realidade e viver na lua, encontrei na net uma pessoa que conseguiu, conscientemente ou não, fazer-me descer a terra… Não foi com sermões, nem palpites, nem chamar-me a razão… foi duma maneira muito peculiar… sentir-me pessoa, sentir-me mulher. Sem questionar, sem discutir, sem perguntar nada, deu-me o espaço e a confiança que tinha perdido em mim própria. Através de longas conversas, sobre tudo e nada, senti que afinal estava viva, que era capaz de recomeçar, criar o meu novo espaço… E aconteceu - a ‘cometa’ mudou o meu rumo, devolveu-me a vontade de viver e continuar e deu-me forças para recomeçar… A minha vida nos últimos anos não tem sido propriamente alegre, mas sempre consegui equilibrar a vida profissional e emocional, mesmo que …
Sei que todas as cometas tem a sua trajetória, passam rapidamente, acendem a chama de novas vidas e continuam para frente, preocupadas de alcançar novos destinos, sem olhar para trás… mesmo assim custa-me que a ‘minha cometa’ foi embora. Não sei porque, mas tinha imaginado que estaria sempre o meu lado, continuando próxima, viva, sempre presente em todos os momentos do resto da vida…
Sem comentários:
Enviar um comentário