O «empobrecimento» significa não ter aonde construir
um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a
existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu.
O poder destrói o presente individual e coletivo de
duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis,
preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe
todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir,
empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou
reduzindo a zero o seu trabalho.
O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política
de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas
suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stresse,
depressões, patologias border-/ine enchem os gabinetes dos psiquiatras
que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo
contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a
política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses
(sobretudo jovens).
O presente não é uma dimensão abstrata do tempo, mas o
que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o
encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que
possam irradiar no presente em múltiplas direções. Tiraram-nos os meios desse
encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença
no presente do espaço público.
Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se,
desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade
está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por
si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se
aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o
«outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os
sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convívio. A
solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo
não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade
civil.
Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se:
enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos
ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as
instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se
romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim.
O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a
ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das
minhas forças - em vias de me transformar num ser espetral. Sou dois: o que
cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os
seus, para os filhos, para si.
Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si
mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou
toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do
povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos,
paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de
ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se
queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país.
E agora chega o relatório da Troika que confirma o novo ‘fantoche’ na Europa…
O relatório no seu formato original pode encontrar-se em http://www.scribd.com/doc/119761040/Relatorio-FMI-2013.
Para fazer o download do ficheiro pode entrar com a sua conta do facebook. È interessante
ler as propostas e imaginar o que nos espera … diria, ainda este ano…
Aparecem
num artigo de Jornal de Negócio 2 gráficos…
Afinal, onde está a verdade? Ou
este é um caminho pré-desenhado com fins muito claras para alguém?!