Uma opinião com qual não descordo...
António Costa definiu este domingo como o primeiro dia dos últimos dias do Governo. De facto, estamos é perante o último dia de Costa, o Dom Sebastião, e o primeiro dia de alguma coisa de que precisamos, mas que não sabemos ainda bem o que é.
O futuro ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa passou esta campanha interna embrenhado numa disputa de popularidade, até porque se discutiu sobretudo personalidades e estados de alma, e não necessariamente grandes diferenças programáticas. Fê-lo sem se comprometer com quaisquer promessas relevantes, o que é de aplaudir, mas que tem como reverso o facto de se ter refugiado em banalidades líricas como o crescimento económico e apostas irrelevantes como a restauração do Ministério da Cultura.
Do que poderá ser enquanto eventual futuro primeiro-ministro, a apreciação começa agora e, naturalmente, se e quando ele for eleito.
De resto, tudo o que podemos para já intuir vem do seu percurso político. A passagem pelo Governo de José Sócrates mostrou um político competente, hábil e cauteloso, vogando ao sabor das marés que tanto embalaram esse Executivo como o atiraram contra as pedras dos seus próprios equívocos. Costa soube apoiar e estar presente quando era de feição, e soube refugiar-se quando era conveniente. Saiu do desastre socialista mais experiente e ileso.
À frente da Câmara Municipal de Lisboa, o balanço que posso fazer é enquanto morador desta cidade: a verdade é que, para quem cá mora e trabalha, nada mudou para melhor, embora naturalmente nem tudo dependa da acção de António Costa.
Os transportes estão piores, em qualidade e quantidade; a segurança não melhorou; a limpeza é o que se vê, com a cidade mais suja em muitos anos; a habitação animou com a mexida da lei do arrendamento, mas a reabilitação é insuficiente e colocada no mercado a preços exorbitantes; as estradas proporcionam emocionantes percursos radicais, mas não dão grande saúde aos carros e seus ocupantes; a cidade alaga de cada vez que alguém cospe para o chão.
Se queremos falar de obra feita, daquela que interessa aos cidadãos, o balanço fica muito aquém para quem é apontado como o SDT, o Salvador Disto Tudo. À frente da cidade, Costa gastou o seu tempo e as suas energias em coisas giras, mas irrelevantes: muita corridinha na Avenida da Liberdade; muito piquenicão; uma acupunctura no Intendente, enquanto o resto apodrece; perseguição paranóica aos automobilistas, esses perigosos facínoras que é preciso derrotar com o imposto diário da municipal EMEL e cuja paciência é testada com requintes de sadismo pelo Executivo camarário.
O mandato de António Costa lembrou-me as campanhas de Luiz Felipe Scolari à frente da Selecção Nacional: muita conversa, muita cantoria, muita bandeirinha à janela e muita Senhora do Caravaggio, mas quando foi preciso mexer na táctica a coisa rapidamente deu para o torto.
Costa, inebriado pela mais dócil imprensa de que há memória, deixou-se adormecer nesta pose, como se isso chegasse, como se ele não fosse capaz de mais ou não tivesse, por isso, a obrigação de dar mais e melhor. Talvez tenha chegado para ganhar eleições e ganhou-as de forma esmagadora. Mas temo que não chegue para todo o trabalho de que este País necessita.
A tentação da estratégia da conversa mole até é grande, porque o Governo pode perder sozinho sem ser preciso empurrar muito. Mas o que se exige a alguém com as capacidades políticas de António Costa - e que ostenta aos ombros o manto mágico da infalibilidade - é que seja tudo quanto pode ser, e não se limite a ser do contra em nome do resgate de uma narrativa tão errada como a de Passos Coelho.
O País não vai lá com meia dúzia de ciclovias e uma pintura de fachada.
É hora de o Salvador Disto Tudo mostrar o que vale.
Do que poderá ser enquanto eventual futuro primeiro-ministro, a apreciação começa agora e, naturalmente, se e quando ele for eleito.
De resto, tudo o que podemos para já intuir vem do seu percurso político. A passagem pelo Governo de José Sócrates mostrou um político competente, hábil e cauteloso, vogando ao sabor das marés que tanto embalaram esse Executivo como o atiraram contra as pedras dos seus próprios equívocos. Costa soube apoiar e estar presente quando era de feição, e soube refugiar-se quando era conveniente. Saiu do desastre socialista mais experiente e ileso.
À frente da Câmara Municipal de Lisboa, o balanço que posso fazer é enquanto morador desta cidade: a verdade é que, para quem cá mora e trabalha, nada mudou para melhor, embora naturalmente nem tudo dependa da acção de António Costa.
Os transportes estão piores, em qualidade e quantidade; a segurança não melhorou; a limpeza é o que se vê, com a cidade mais suja em muitos anos; a habitação animou com a mexida da lei do arrendamento, mas a reabilitação é insuficiente e colocada no mercado a preços exorbitantes; as estradas proporcionam emocionantes percursos radicais, mas não dão grande saúde aos carros e seus ocupantes; a cidade alaga de cada vez que alguém cospe para o chão.
Se queremos falar de obra feita, daquela que interessa aos cidadãos, o balanço fica muito aquém para quem é apontado como o SDT, o Salvador Disto Tudo. À frente da cidade, Costa gastou o seu tempo e as suas energias em coisas giras, mas irrelevantes: muita corridinha na Avenida da Liberdade; muito piquenicão; uma acupunctura no Intendente, enquanto o resto apodrece; perseguição paranóica aos automobilistas, esses perigosos facínoras que é preciso derrotar com o imposto diário da municipal EMEL e cuja paciência é testada com requintes de sadismo pelo Executivo camarário.
O mandato de António Costa lembrou-me as campanhas de Luiz Felipe Scolari à frente da Selecção Nacional: muita conversa, muita cantoria, muita bandeirinha à janela e muita Senhora do Caravaggio, mas quando foi preciso mexer na táctica a coisa rapidamente deu para o torto.
Costa, inebriado pela mais dócil imprensa de que há memória, deixou-se adormecer nesta pose, como se isso chegasse, como se ele não fosse capaz de mais ou não tivesse, por isso, a obrigação de dar mais e melhor. Talvez tenha chegado para ganhar eleições e ganhou-as de forma esmagadora. Mas temo que não chegue para todo o trabalho de que este País necessita.
A tentação da estratégia da conversa mole até é grande, porque o Governo pode perder sozinho sem ser preciso empurrar muito. Mas o que se exige a alguém com as capacidades políticas de António Costa - e que ostenta aos ombros o manto mágico da infalibilidade - é que seja tudo quanto pode ser, e não se limite a ser do contra em nome do resgate de uma narrativa tão errada como a de Passos Coelho.
O País não vai lá com meia dúzia de ciclovias e uma pintura de fachada.
É hora de o Salvador Disto Tudo mostrar o que vale.
(Tiago Freire)
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