terça-feira, 5 de setembro de 2017

Aviso à navegação!

Alto lá!
Aviso à navegação!
Eu não morri:
Estou aqui
na ilha sem nome,
sem latitude nem longitude,
perdida nos mapas,
perdida no mar Tenebroso!


Sim, eu,
o perigo para a navegação!
o dos saques e das abordagens,
o capitão da fragata
cem vezes torpedeada,
cem vezes afundada,
mas sempre ressuscitada!


Eu que aportei
com os porões inundados,
as torres desmoronadas,
os mastros e os lemes quebrados
- mas aportei!


Aviso à navegação:
Não espereis de mim a paz!


Que quanto mais me afundo
maior é a minha ânsia de salvar-me!
Que quanto mais um golpe me decepa
maior é a minha força de lutar!


Não espereis de mim a paz!

Que na guerra
só conheço dois destinos:
ou vencer – ai dos vencidos! –
ou morrer sob os escombros
da luta que alevantei!


- (Foi jeito que me ficou
não me sei desinteressar
do jogo que me jogar.)


Não espereis de mim a paz,
aviso à navegação!


Não espereis de mim a paz
que vos não sei perdoar!


Joaquim Namorado

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