Da hora da infância, eu nunca
pude ser
Como outros eram, – nunca pude
ver
Como outros viam, – sentimento
algum
Pude extrair de manancial
comum.
Nas mesmas fontes eu não fui
busca
A minha dor; não pude
despertar
Meu gozo com os tons de meu
vizinho;
E tudo o que eu amei, amei
sozinho.
Então, – na minha infância, –
foi tirado,
Na aurora de um viver
atormentado,
Dos abismos de todo mal e bem,
O mistério que ainda me retém:
Da torrente e da fonte,
Do penhasco vermelho do monte,
E do sol, a rolar a meu lado
Com as tintas do outono
dourado…
Do corisco na altura sem fim,
Que voando passava por mim…
Da tormenta, da voz do trovão,
E da nuvem, criando a ilusão
(Lá no meio do azul a brilhar)
De um demônio em meu olhar.
Edgar Allan Poe
Sem comentários:
Enviar um comentário