quinta-feira, 30 de abril de 2015

Amanhã começa a operação DC…

… double… pois, mas não é o DC, DC antigo… e algo que chamo DC, mas traduzido quer dizer ‘descobrir um cantinho’ para ‘descansar a cabeça’… preciso disso, antes que perco a minha sanidade mental…. Pelo que encontrei na net, as espectativas são grandes…

Hope will not be disappointed…

 

Trying to smile...




segunda-feira, 13 de abril de 2015

Controverso, mas com coragem…

... morreu hoje...




O que deve ser dito
Günter Grass

Porque guardo silêncio há demasiado tempo
sobre o que é manifesto
e se utilizava em jogos de guerra
em que no fim, nós sobreviventes,
acabamos como meras notas de rodapé.

É o suposto direito a um ataque preventivo,
que poderá exterminar o povo iraniano,
conduzido ao júbilo
e organizado por um fanfarrão,
porque na sua jurisdição se suspeita
do fabrico de uma bomba atômica.

Mas por que me proibiram de falar
sobre esse outro país [Israel], onde há anos
- ainda que mantido em segredo –
se dispõe de um crescente potencial nuclear,
que não está sujeito a nenhum controle,
pois é inacessível a inspeções?

O silêncio geral sobre esse fato,
a que se sujeitou o meu próprio silêncio,
sinto-o como uma gravosa mentira
e coação que ameaça castigar
quando não é respeitada:
“antissemitismo” se chama a condenação.

Agora, contudo, porque o meu país,
acusado uma e outra vez, rotineiramente,
de crimes muito próprios,
sem quaisquer precedentes,
vai entregar a Israel outro submarino
cuja especialidade é dirigir ogivas aniquiladoras
para onde não ficou provada
a existência de uma única bomba,
se bem que se queira instituir o medo como prova… digo o que deve ser dito.

Por que me calei até agora?

Porque acreditava que a minha origem,
marcada por um estigma inapagável,
me impedia de atribuir esse fato, como evidente,
ao país de Israel, ao qual estou unido
e quero continuar a estar.

Por que motivo só agora digo,
já velho e com a minha última tinta,
que Israel, potência nuclear, coloca em perigo
uma paz mundial já de si frágil?

Porque deve ser dito
aquilo que amanhã poderá ser demasiado tarde [a dizer],
e porque – já suficientemente incriminados como alemães –
poderíamos ser cúmplices de um crime
que é previsível,
pelo que a nossa cota-parte de culpa
não poderia extinguir-se
com nenhuma das desculpas habituais.

Admito-o: não vou continuar a calar-me
porque estou farto
da hipocrisia do Ocidente;
é de esperar, além disso,
que muitos se libertem do silêncio,
exijam ao causador desse perigo visível
que renuncie ao uso da força
e insistam também para que os governos
de ambos os países permitam
o controle permanente e sem entraves,
por parte de uma instância internacional,
do potencial nuclear israelense
e das instalações nucleares iranianas.

Só assim poderemos ajudar todos,
israelenses e palestinos,
mas também todos os seres humanos
que nessa região ocupada pela demência
vivem em conflito lado a lado,
odiando-se mutuamente,
e decididamente ajudar-nos também.

Boa semana de trabalho....


domingo, 12 de abril de 2015

sábado, 4 de abril de 2015

A Lua (dizem os Ingleses)

A Lua (dizem os Ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma ideia se perde.
E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.
Sim, todos os meus desejos
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os Ingleses)
É azul de quando em quando…
 
Fernando Pessoa
 

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...


Cecília Meireles

Uma opinião...

... encontrada na edição de hoje do DN...


Para quem está a ter a experiência de - uma vez mais - lidar com a incompetência da Autoridade Tributária (AT), vulgo fisco, na entrega das declarações de IRS, esta é a oportunidade para recordar aquilo em que o fisco se transformou nos últimos anos. Trata-se, evidentemente, de uma subversão de tudo aquilo que se espera dos serviços públicos (pagos, obviamente, por todos os cidadãos contribuintes). É assaz alarmante que estes serviços sejam - além de profundamente lentos e incompetentes - uma espécie de polícia omnipresente, que tudo pode ver e que tudo pode fazer em relação à vida dos cidadãos contribuintes portugueses. E além de - para cúmulo - o atual fisco poder cobrar portagens e prestar outros serviços a entidades privadas, há um constante abuso de poder e de autoridade da parte deste serviço do Estado que, afinal, é paga e pertence-nos a todos, enquanto cidadãos. Além disso, este é, naturalmente, um dos principais focos de revolta latente das populações, que se sentem injustiçadas, impotentes e indignadas perante a orientação política que - desde há uns anos a esta parte - tem marcado a atuação do fisco.

Como é do conhecimento geral, os registos de abusos são cada vez maiores, e vão desde penhoras de bens imóveis de contribuintes (em muitos casos - espante-se - a sua própria casa) à conta de uma pretensa dívida de cêntimos, até à cobrança coerciva de centenas ou de milhares de euros que, em muitos casos, resultam de enganos grosseiros do sistema informático e/ou do excesso de zelo (para não dizer abuso) dos funcionários. Preocupa-me, obviamente, que não exista a possibilidade de defesa da parte dos cidadãos perante estes abusos e que - além disso, e mais grave - se tenha instalado na subcultura dos funcionários do fisco a ideia de que os portugueses são todos uns incumpridores fiscais, uma espécie de povo que importa explorar e subjugar com a máxima cobrança possível de impostos. Depois, e mais recentemente, acrescenta-se a este clima de medo que me faz lembrar a PIDE (a polícia secreta infame da ditadura de Oliveira Salazar, que cometia toda a espécie de abusos e de torturas físicas e psicológicas), todo um conjunto de procedimentos que visam esbulhar fiscalmente os portugueses, aplicados com uma única preocupação: a do lucro. Este é - bem entendido - o resultado de uma cultura de gestão que foi implementada nos últimos anos no fisco, transformando o seu departamento de cobranças numa unidade de gestão na qual os seus funcionários recebem prémios em função dos montantes de impostos cobrados. Sem olhar a meios. Sem controlo. Sem qualquer espécie de regulação.

Por fim - e para escândalo - ficámos a saber pelas notícias recentes do DN que estava criada uma lista VIP de contribuintes que "favorecia" ou pelo menos "protegia" algumas das figuras da área política (como se os cidadão não fossem todos iguais perante a lei e o fisco...). E estamos agora a descobrir que existem "11 600 utilizadores" que podem aceder aos nossos dados fiscais. Além de ser muito preocupante - dado que o fisco é hoje, como se percebe, uma entidade sem controlo e que comete muitos abusos na sua atuação quotidiana -, esta situação também nos diz da permeabilidade e da falta de segurança deste organismo estatal e público.

Para quem - como eu - pensava que depois do 25 de abril de 1974 a ameaça de uma ditadura e dos seus mecanismos de coerção estaria afastada do nosso país, não podia - na verdade - estar mais equivocado. Mas quem vai pôr um travão a isto? Teria, certamente, o meu voto e o voto de muitos dos portugueses. Até mesmo - bem sei - dos funcionários ficais que - sejamos justos - se limitam na esmagadora maioria dos casos a cumprir ordens.