quarta-feira, 7 de março de 2018

Sozinho...


Da hora da infância, eu nunca pude ser
Como outros eram, – nunca pude ver
Como outros viam, – sentimento algum
Pude extrair de manancial comum.
Nas mesmas fontes eu não fui busca
A minha dor; não pude despertar
Meu gozo com os tons de meu vizinho;
E tudo o que eu amei, amei sozinho.

Então, – na minha infância, – foi tirado,
Na aurora de um viver atormentado,
Dos abismos de todo mal e bem,
O mistério que ainda me retém:
Da torrente e da fonte,
Do penhasco vermelho do monte,
E do sol, a rolar a meu lado
Com as tintas do outono dourado…
Do corisco na altura sem fim,
Que voando passava por mim…
Da tormenta, da voz do trovão,
E da nuvem, criando a ilusão
(Lá no meio do azul a brilhar)
De um demônio em meu olhar.

Edgar Allan Poe

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