domingo, 21 de outubro de 2018

Eis-me


  Eis-me      

 Tendo-me despido de todos os meus mantos

 Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses

 Para ficar sozinha ante o silêncio

 Ante o silêncio e o esplendor da tua face

 

 Mas tu és de todos os ausentes o ausente

 Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca

 O meu coração desce as escadas do tempo

                         [em que não moras

 E o teu encontro

 São planícies e planícies de silêncio

 

 Escura é a noite

 Escura e transparente

 Mas o teu rosto está para além do tempo opaco

 E eu não habito os jardins do teu silêncio

 Porque tu és de todos os ausentes o ausente…

 

Sophia de Mello Breyner

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